sábado, 20 de abril de 2024

 


 

               AS MIL E UMA MARAVILHAS OU COMO DEIXAR DE LER

 

            Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras

          Já escrevi várias vezes sobre a falta de leitura do povo brasileiro. Nós, Brasil e    países em desenvolvimento, passamos da era da pedra – era só imagem e riscos nas cavernas -  à era da internet, quando ironicamente ninguém quer saber de letras, quer saber só de figuras. Já falei nos “ANALFABETIZADOS” - aqueles que vão à escola aprendem mal,muito mal a ler, nada a escrever senão alguns garranchos para assinar em algum documento e saem por aí dizendo-se leitores e às vezes até escritores. São os eleitores de Lula – (desculpem-me  a  intromissão na política vagabunda do nosso Brasil de hoje, entre os quais não se encontram nenhum dos meus poucos leitores). Esse pessoal nunca leu um livro como “Madame Bovary”, de Flaubert; nem um “Dom Casmurro”, do fabuloso Machado de Assis, inclusive alguns dos seus excelentes contos, que não são muito longos. Esse pessoal nunca leu, para abreviar a lista, José de Alencar, não sabe quem foi “Iracema”. São os que chamo de “ANALFABETIZADOS”,  e por muita concessão.

          De poesia, nem se fala. Se se perguntar a um deles quem é o maior poeta do Brasil é capaz de responder que é o Tiririca, sem ofender a este bom humorista que se meteu na política e parece ainda não ter-se corrompido.

          Não sei se deveria citar, para bem ou para mal, que a maior editora de livros nestes dois últimos anos, no Piauí, é a Academia Piauiense de Letras. Não porque queira e tenha recursos para tal, não porque esteja cumprindo algumas das suas funções principais, mas para comemorar seu Centenário de nascimento, de criação, em  30 de dezembro de 1917. Seu dinâmico presidente atual, Nelson Nery Costa,  vem esbaldando-se para cumprir aquilo que Castro Alves escreveu, recitou e proclamou durante sua rica vida de intelectual, poeta e fervoroso combatente para o fim da escravidão negra. Muitas outras batalhas encetou, incluisve a liberdade fundamental de que “A PRAÇA, A PRAÇA É DO POVO / COMO O CÉU É DO CONDOR”. Por milagre, algumas pessoas do meado do século XX ainda se lembram: de um poema de estrofe contundente e que tem tudo a ver com o nosso artigo:“LIVROS, LIVROS, À MÃO CHEIA / FAZEI O POVO PENSAR. / O LIVRO CAINDO N’ ALMA  / É GERME QUE FAZ A PALMA / É CHUVA QUE FAZ O MAR”

          Como eu ia dizendo, o presidente da APL já publicou um centena de livros e promete publicar outro tanto neste ano da Comemoração do Centenário da “Casa de  Lucídio Freitas” e nesse sentido já publicou obras importantíssimas da literatura piauiense de vivos e mortos, entre os quais poemas, antologias, histórias, memórias, crônicas e biografias. Depois disto, uma pergunta encabulosa e de certa forma atrevida pode vir:

          - Quem, dentre vocês, piauienses,  já leu algum desses livros, quem já leu mais de um? Quantos brasileiros lêem livros anualmente. O silêncio será constrangedor. A resposta é não, quando juntamente não acompanhada de um tremendo desaforo.

          Por que comprar livros no Piauí? Ninguém lê. Mas é de graça. Ninguém quer, ninguém compra, ninguém lê. Não sei como sobrevivem as livrarias (poucas), da nossa cidade. Posso responder, sem medo de errar: vendo “BESTAS DE SELA” americanas ou livros de devoção religiosa, o principal a Bíblia. Reforço meus argumentos com os da escritora que muito prezo, uma sumidade como crítica literária, mesmo que ainda tão nova, Rosidelma Fraga, que fez o prefácio de minha  “POESIA IN COMPLETA”. E que prefácio! Uma lição  de sabedoria e competência no labutar com as letras e com a arte da poesia, ela que também é poeta. Sua contribuição aqui é tirada de um trecho de artigo dela, publicada no “Portal  Entre-textos, do Dilson Lages: “De forma brevíssima, meu objetivo fulcral é dar algumas alfinetadas sobre o tema assassinato do leitor e da literatura associado ao diploma conferido a um professor da área de Letras. Parece estranha a proposta, já que na própria envergadura e no corpo fônico da palavra LETRAS há o verbo LER. Por conseguinte, quem escolhe a licenciatura ou o bacharelado em Letras será um leitor. Seria mais que óbvio se não fosse obtuso, diria meu amigo Roland Barthes”.

          E por aí segue a escritora Rosidelma Fraga. Mas,  não posso tomar o fôlego do seu artigo, invectivando Universidades, Cursos de Letras, professores que se formam sem apreender a ler, ou pelo menos sem gostar de ler. Como é que se lê tanto como deve um professor, sem gostar de ler? Se os professores não lêem, como vão ensinar a seus alunos que é bom ler, que devemos ler, pois como disse o Prof. Antônio Cândido  (com toda a sua autoridade): “A Literatura confirma a humanidade do homem e contribui para a formação da personalidade por ser uma forma de conhecimento do mundo e do ser.”  Logo, a literatura deve estar adiante de todo e qualquer diploma, mormente o de Licenciatura Plena em Letras.

          Quero dizer que os próprios professores de Letras vão ganhar dinheiro sem ler. E vão ensinar mal os seus alunos, por desestimularem a leitura.  Alguns que se salvam e lêem pouco, lêem mal como aponta Rosidelma Fraga.  E aí ela fala na “bola de neve”, a que é elevada a sociedade, citando que há professores que não distinguem a palavra MAL da palavra MAU, uma vez que não sabem quando se deve escrever L ou U. E isto é monstruoso, é a contradição do que estudou e do que deve lecionar.Nas salas de aula dos cursos diversos até chegarem à Universidade, onde se deveriam formar bons leitores, ao contrário, de modo geral todos se tornam maus leitores e serão futuros doutores semianalfabetos ou ANALFABETIZADOS, como eu costumo denominar. Sendo assim, chegamos ao reino das “mil maravilhas” dos iletrados, pois se querem saber de algo, como se escreve a palavra X ou o que significa a palavra Y, buscam a internet. Acontece que, sem saberem escrever, muitas vezes têm dificuldade de encontrar o que querem e mais ainda de entenderem o que a máquina moderna lhes oferecem. E se a grande maioria são iletrados, ANALFABETIZADOS, como vamos ter leitores, nós pobres escritores?

          Para encerrar, cito um trecho muito interessante de mudança de gerações, de autoria do filósofo Arthur Schopenhauer (1788-1860): “A cada 30 anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado”.

         Daí podemos aferir os leitores que não leram os clássicos: bons, maus? O leitor decide.

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   (Publicado no  jornal  “O Dia” e no “portal o dia”, 04. 06.2017)

segunda-feira, 15 de abril de 2024

 


MEU GRANDE RIO

          Os rios são como nossas vidas: Correm de onde

         nós estamos e entranham-se na  alma e no coração.

                          Francisco Miguel de Moura*

 

Parnaíba é meu rio, meu destino,

pois me banhei primeiro no Riachão,

que me viu fulgores de menino,

pulsando lá, bem forte, o coração.

 

 Foram-se dias e noites... Onde estão?

 E me levaram além, por outros rios,

Enfrentando arriscados desafios.

Em busca de vender minha paixão.

 

Andando e vendo, cheio de emoção,

Encontro o Parnaíba, já bem longe

De alma inteira e corpo sempre são.

 

Deixei águas passadas, já sem fé,

Para banhou-me aqui, no “Velho Monge”,

Seja inverno ou verão, sem tomar pé.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

 

sábado, 13 de abril de 2024


 

SUBINDO, DESCENDO...

      Francisco Miguel de Moura*


Subo o pico do morro

em roda de mim mesmo.

E em vertical, volto descendo... 

Ai, de mim mesmo, ai meu outro!

E sumo, sumindo, submergindo...

É noite?  Manhã clara sem sinal

e recomeço a render-me ao que sou.

            Se sou... Pois não fugi?

Longe do que fui, entro surpresas...

Voo rasante, submergindo a alma

       até quando o tufão passar

       nos meus ocos descaminhos.

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 Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

 


CANTIGA DO BOI

           Francisco Miguel de Moura*

 

Meu boi não morreu,

venha você pra aqui,

antes que você morra,

Maninha,

venha pro Piauí.

 

Aqui é terra boa,

mesmo sem garoa...

E este solzinho à toa,

                 Maninha,

é melhor do que tudo aí.

 

Aqui tem o Parnaíba,

grande, maior que o mar,

e ainda, de graça

outro rio, o Poty.

Teresina é muito grande,

nossa verde capital,

mulher, moça e menina,

tudo muito bonito

e, de quebra, tem cabra macho.

              Maninha, vem pra cá.

 

No calor ou na chuva,

nosso boi ecoa, ecoa...

Seu mugido saudoso

vem ouvi-lo... Que é boa

a vida por aqui.

 

Nosso boi não vai,

         Maninha.

Quem quiser venha cá.

Se a coisa aí tá russa,

aí é que ele não vai,

          Maninha.

Nem que a vaca tussa.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador piauiense.

nascido no interior, veio morar na Capital e diz que daqui

não sai.

sábado, 30 de março de 2024


 

POEMA INCONCLUSO        

 

                        Francisco Miguel de Moura*

 

Um poema estornado da garganta,

que não seja meloso acima dos afetos.

Poema do meu querer concreto,

       do meu querer absurdo.

E que nenhum leitor, por mais astuto

possa mostrá-lo além do branco e preto.

Que seja assim um poema absoluto

e simples como a flor sem cor, sem nome,

que fenece perdida, ao fim da tarde.

Que todas as línguas vivam meu poema,

escondido de mim, alheio, sem razão,

universal no sangue e na desgraça...

Que a alma não sinta, não possa retê-lo,

quer ande ventos, nuvens, tempestades,

por incultos caminhos e veredas.

 

Esse poema procuro a vida inteira,

por meus buracos negros e galáxias.

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  *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.


 

quinta-feira, 21 de março de 2024

 


POETA: O EU E O EGO**

            Francisco Miguel de Moura*

 

Pequei, Senhor, no curso dos meus dias,

Porque não soube me conter no amor:

Meu “ego” só pensava em poesias,

Meu “eu” encarcerando um sofredor.

 

Não quis saber do que era mais virtude

Do que um olhar apenas, no calor

De emoções passageiras, sem valor,

Pensando e escrevendo o que não pude...

 

Meu “ego”, tentador, desenfreado,

Quis, das palavras, tudo, e ao seu agrado,

Sentindo as tolas emoções, fatais...

 

Como poeta, ai! Sei que pequei tudo!

Mas o meu “eu”, enfim, governou, mudo,

E, consciente, não pequei jamais.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

                                Teresina, PI, 09/10/2019

terça-feira, 19 de março de 2024

 


TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 19/01/2024 COM O ESCRITOR, POETA E CRÍTICO LITERÁRIO PIAUIENSE FRANCISCO MIGUEL DE MOURA, PELA DOUTORANDA NATÁLIA FERREIRA DE SOUSA.

Natália Ferreira de Sousa – Professor bom dia.

Francisco Miguel de Moura – Bom dia.

Natália Ferreira de Sousa – Eu gostaria de começar, desta vez, perguntando a sua trajetória acadêmica, a sua formação de estudo, professor?

Francisco Miguel de Moura – A minha? Porque, outro dia, você me perguntou sobre Herculano Morais...

Natália Ferreira de Sousa – Sim, a sua, não a do Herculano.

Francisco Miguel de Moura – A minha trajetória acadêmica é meio longa, porque não é somente acadêmica. Meu pai era mestre-escola, conhecido por Miguel Guarani. Escrevi até um livro, a biografia dele, “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”. Ele era cantador de viola, de repente. Mas era muito mais mestre do que violeiro. E aí, eu aprendi o que se chama hoje, o primário, as primeiras letras... O curso fundamental. Não é? Eu aprendi com ele os quatro primeiros anos de escola e o restante fui aprendendo por mim mesmo.        Lá onde eu morava, Jenipapeiro, do município de Picos.  Em Jenipapeiro (leia-se hoje Francisco Santos-PI), não havia o curso ginasial. Depois do ginásio, era o científico, ou seja, o terceiro grau, por isto eu fiz o Curso de Contabilidade.  Voltando um pouco, para o ginasial.  Lá, passei em primeiro lugar. O ginásio era público, o “Marcos Parente” , só no nome, o governo do Estado não pagava nada. Então, os alunos, tinham que pagar para estudar. Eu fui aprovado ao ginásio em   primeiro lugar, por isto não pagava nada... Nos anos seguintes, sempre eu conseguia ser o melhor, continuava sem pagar. Fiz os quatro anos de ginásio, e quando eu terminei o ginásio, casei com Maria Mécia Morais Araújo Moura, com quem convivo até agora. Ela, além de ser a moça mais bela da cidade (na minha concepção), era inteligente e dinâmica. Por isto me tem ajudado muito. Sem ela, não sei quem eu seria de mim.  Nesse intermédio apareceu a oportunidade do concurso, e fui aprovado também. Funcionário do Banco do Brasil, aí, minha vida toda foi mais ou menos no Banco. Fui para o interior da Bahia, lá morando 3 anos. Cheguei em Teresina, em outubro de 1964. Antes eu já tinha tentado umas escolinhas à noite para dar aulas de graça à população pobre do interior da Bahia. Mas quando eu cheguei em Teresina, fiz o Curso de Admissão à Faculdade Católica do Piauí, fiz minha Licenciatura em Letras, em língua, em literatura brasileira e portuguesa, na FAFI. Depois, aí, eu passei uns tempos lecionando a noite, que eu trabalhava de dia no banco, a noite lá no Colégio Anísio de Abreu, que era um Anexo do Liceu Piauiense.

Natália Ferreira de Sousa – Uma Fundação? 

Francisco Miguel de Moura - Não, não era uma fundação, ele era, um adendo, um anexo do Liceu. Passei dois anos e aí terminei minha carreira... De professor.  Eu era bancário, já estava acostumado com a vida bancária. Aí, então, foi essa minha vida de bancário também, porque logo aposentei-me, mas fiquei, sempre, ligado ao Banco do Brasil, através da Associação dos Aposentados, com sede no Rio, aqui eu sendo o representante. Acrescento que, depois de aposentado, depois de algun tempo, eu voltei a morar na Bahia. Agora, não ao interior, mas em Salvador, onde fiz minha pós-graduação em Crítica de Arte.

Natália Ferreira de Sousa – Professor, eu gostaria também de perguntar, nessa sua trajetória, em que momento o senhor teve contato, começou a ter contato com o Hardi Filho, o Herculano Moraes, o Osvaldo Lemos...

Francisco Miguel de Moura – Logo que eu cheguei a Teresina, havia deixado meu posto de Chefe da Carteira Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, em Itambé, no interior da Bahia, como lhe falei, fui assumir aquela função. Quando eu voltei para o Piauí, de Itambé-BA, eu vim para Teresina, como simples funcionário do Banco do Brasil, onde, com pouco tempo, assumi a função de Chefe de Carteira, não de simples funcionário. 

 Natália Ferreira de Sousa – Certo, e isso foi na década de sessenta, cinquenta...?

Francisco Miguel de Moura – Sim, sim. Mas para lembrar datas, agora, vai ser difícil. Eu cheguei aqui em outubro de 1964, em Teresina, aí o tempo já está mais ou menos marcado. Pois é, em 1964, quando eu cheguei em Teresina, aí eu tive a sorte de encontrar vários colegas do Banco do Brasil que eram artistas... O primeiro, O. G. Rego de Carvalho, romancista e contista, que havia chegado do Rio de Janeiro. Depois conheci outro de nome Tarciso Prado, de teatro, teatrólogo, ator e autor de peças de teatro. Ele era um dos meus colegas do Banco do Brasil, também íntimo. O. G. Rego adoeceu, no Rio, e voltou para cá. Então, esses dois, foram assim me chamando pra realidade: “Olha, Chico Miguel, a literatura não está morrendo no Piauí, alguns dos melhores escritores saíram de Teresina, estão morando distante”.  Nesse ínterim, eu fui apresentado pelo Tarciso Prado, ao poeta Francisco Hardi Filho, isso lá no Banco do Brasil mesmo. O Hardi Filho estava lá, acho que tinha ido receber um dinheiro, não sei, lá no banco. Depois fui apresentado ao Herculano Morais, pelo Hardi Filho. Este já tinha publicado um livro, de poesias, aprovado pela Academia Piauiense de Letras, isto é, com o prefácio ou qualquer coisa assim. O Herculano Morais também já tinha publicado um livro de poemas, e eu estava com meu livro debaixo do braço, esperando poder publicá-lo: “Areias”, Você conhece “Areias”?.

Natália Ferreira de Sousa – Sim, conheço. 

Francisco Miguel de Moura – Conhece, não é? Pois é, aquele livro, eu publiquei em 1966.  Na verdade, foi escrito e composto em 1965, quer dizer, em dezembro de 1965 já estava pronto. Em 1966, foi que eu saí com ele pra vender, pra. distribuir. Aí eu vendi tudo, quinhentos exemplares, vendi todos. Recebendo em dinheiro. Então essa é minha história de poeta.  Mas eu era poeta desde lá de Jenipapeiro (hoje Francisco Santos), Lá, eu já escrevia poemas. Poemas que fui rasgando. Os melhores eu ia deixando e os piores eu fui melhorando, melhorando, até que cheguei em “Areias”, certo?

Natália Ferreira de Sousa – E como é que o senhor se articulou junto com o Herculano Morais e com o Hardi Filho para... ?

Francisco Miguel de Moura – O Herculano Morais era uma pessoa muito boa... Digamos assim... Eu me tornei muito amigo do Hardi Filho primeiro. Ele me deu o livro dele, eu ainda não tinha publicado o meu. Mas o Herculano depois veio, em segundo lugar. Ele me deu o livro dele também, e aí... O Herculano era jornalista e era um articulador de amigos e amizades. Assim como para formar entidades culturais. E sugeriu-se uma... Nós nos juntarmos e fundarmos uma entidade. Entidade que não tinha nada, era só nós e nossos livros. Aí, fundamos o Círculo Literário Piauiense, o CLIP. Consta naquele livro de história da “Literatura do Piauí”, de minha autoria. Há muito sobre a nossa entidade literária.

Natália Ferreira de Sousa – Sim.

Francisco Miguel de Moura - Lá tem a parte do CLIP. Pode ler lá, interessante. Herculano fazia também um jornal, fazia uma espécie de jornal, da emissora Rádio Pioneira, a grande emissora da época... Aliás nós começávamos trabalhar e fazer entrevistas: Primeiro, Hardi Filho, na Rádio Clube. Nessa mesma emissora, um pouco mais tarde, eu fiz um programa cultural em conjunto com o Tarciso Prado.

Nália Ferreira de Sousa - Rádio Pioneira? Sim, Herculano Morais, num horário muito especial, assim das l1 às 12 horas da manhã

Francisco Miguel de Moura – Que era do Arcebispado de Teresina, na época dirigida por dom Avelar Brandão Vilela, que era muito dinâmico, pois chegou ao Piauí e fez muitas coisas boas, inclusive a Fundação Cultural Monsenhor Chaves (se não me engano) e a Faculdade Católica de Filosofia do Piauí (a famosa FAFI).  E o Herculano  chamou-me à radio Pioneira, para uma entrevista. Eu fui. Ele me fez umas poucas perguntas e umas poucas não, várias perguntas sobre mim, sobre e letras. Artes  e livros.  Aí, depois.  Ele me entregou a matéria que havia escrito pra basear a entrevista. Está lá no livro “Literatura do Piauí”.

Natália Ferreira de Sousa – Na Academia?

Francisco Miguel de Moura – Não, no livro “Literatura do Piauí”, história da literatura do Piauí. Sim, e aí nossas amizades continuaram, nós éramos do Círculo Literário Piauiense.m Mais tarde, nós, viajávamos pra outros lugares, pra estender, dizer o que era literatura, pois que era preciso a gente recitar poesia, ler romances, essas coisas todas. E não nos largamos mais.

Natália Ferreira de Sousa – E, professor, o senhor poderia falar um pouco sobre Osvaldo Lemos? Que eu não achei muita coisa dele.

Francisco Miguel de Moura - Não, ele não era ainda escritor ele, ele... Depois que nós já estávamos reunidos há alguns meses, ele chegou, veio da Bahia, jornalista e pesquisador da história também, como Herculano. Não me lembro se veio do Rio ou da Bahia.  Isto era na época da “Revolução” dos militares. E estava tudo muito complicado, nós tínhamos muito cuidado ao falar nas coisas políticas, ideias. Podia ser chamada a Polícia. Eu fui chamado duas vezes à Polícia. Outros foram também. Estava na época da ditadura dos militares. E aí... Ele chegou, mais tarde um pouco, do que nós, aí juntou-se a nós.  Íamos nos juntando a outras pessoas que nos procuravam. Eram dezessete ou dezoito membros, talvez chegasse a vinte os membros do Círculo Literário Piauiense (CLIP).  Osvaldo Lemos chegou depois, e aí, quando nós fomos formar a Diretoria, ele ficou como Vice-Presidente.  Eu era Tesoureiro, o Hardi Filho. o Secretário, e o Herculano, Presidente. Herculano era muito aglutinador. Era uma pessoa muito “dada”, muito agradável, entendeu? Ele não ofendia ninguém, era sempre acolhedor e simpático, aquela coisa toda. E era muito estimado. Esse modo de ser dele continuou quando ele atendia na Academia Piauiense de Letras, até morrer.

Natália Ferreira de Sousa - Então, professor, o Osvaldo Lemos não era da patota inicial?

Francisco Miguel de Moura – Inicialmente, não, mas ele chegou depois e foi incluído no CLIP.  Inicialmente, só éramos nós três: eu, Hardi e o Herculano. Aí, depois, ele chegou. E, aí, foram chegando também outros e outros dos quais eu não me lembro os nomes, mas eram vinte ou maia, talvez, os sócios entre o quais havia escritores de livros publicados e outros que eram iniciantes.  Não sei para que Tesouro, se aos sócios não era cobrado dinheiro, mas apenas atuação em tudo que se chamasse cultura. Castro Aguiar publicara dois romances, era um dos que assinaram entre os nossos sócios. Osvaldo Lemos, jornalista e historiador, escreveu e publicou, depois, uma espécie de biografia de Petrônio Portela. Obra muito boa, editada pela Academia Piauiense de Letras, recentemente. 

Natália Ferreira de Sousa – E, professor, o senhor pode me contar como é que o prefeito Jofre, que eu pesquisei...

Francisco Miguel de Moura – Coronel Jofre do Rego Castelo Branco, Preito de Teresina, na época da Ditadura dos Militares, de 1964. Mais, não sei.

Natália Ferreira de Sousa – Jofre?

Francisco Miguel de Moura – Jofre Castelo Branco nos franqueou o Teatro de Arena, para nossas reuniões “clipianas”.

Natália Ferreira de Sousa – Isso. Ele concedeu a praça... o Teatro de Arena pra vocês? Como vocês tiveram contato com ele?

Francisco Miguel de Moura – O prefeito concedeu à gente o Teatro de Arena, não a praça Marechal Deodoro, para nossas reuniões. A gente fazia nossas reuniões aos domingos pela manhã.

Natália Ferreira de Sousa – Ah, sim. E, avançando um pouco...

Francisco Miguel de Moura – Na noite da instalação do CLIP, oficialmente, foi lá, realmente. Mas o Círculo Literário Piauiense (CLIP)  já existia entre nós, foi lá no Teatro de Arena, como reunião pública. E o prefeito estava lá, e tinha a Nerina Castelo Branco, que era da Academia de Letras, e muitos representantes de várias entidades civis, artistas do “Teatro, 4 de Setembro”... E mais várias outas pessoas. Na verdade, a bancada do teatro estava cheia.

Natália Ferreira de SousaOs senhores...

Francisco Miguel de Moura – Fizemos a reunião publica, para que a entidade ficasse reconhecida publicamente, OK?

Natália Ferreira de Sousa – Ah, sim. Os senhores chamaram ou eles...

Francisco Miguel de Moura – A gente convidava, não é? Entendeu? Aí, acontecia. A gente convidou pessoas representativas da sociedade.  Mas tinha muita gente, outros, principalmente estudantes, o espaço estava cheio... Foi uma solenidade máxima. Nós recitamos poesias, o Hardi recitou, o Herculano recitou, eu recitei, fizemos discurso, e o Tarcíso Prado também falou. Teatrólogo, montou uma pequena peça e foi lá  com seu grupo de atores e mostrou que estava integrado ao nosso grupo.

Natália Ferreira de Sousa – E eu vi que houve também o lançamento do jornal.

Francisco Miguel de Moura – Sim, também... Foi nessa noite que nós lançamos um jornal, o primeiro número do “Jornal do CLIP”.  Depois, não tivemos mais como tirar outros números. Apesar dos nossos esforços. O “Jornal do CLIP” contava toda a história da fundação da entidade e mais matérias diversas, em artigos e poemas.

Natália Ferreira de Sousa – Ah sim, e que depois o senhor, já avançando um pouco, o senhor fez a “Revista Cirandinha”, certo?

Francisco Miguel de Moura – Sim.  Ah, mais lá bem na frente! Aí eu fiz a “Revista Cirandinha”. Tirei dez números da revista... Eu, contando com os meus amigos assinantes e mais meus filhos, durante três a quatro anos. Eu era o editor e conseguia que as firmas locais ajudasse com propagandas. Seriam duas revistas por ano, mas o plano inicial não pôde ser realizado. Mais uns três ou quatro anos ela se manteve viva, funcionando... Recebia tudo que era poeta que se apresentava como poeta, e também artigos e crítica, matérias que eu publicava. Só se fosse ruim demais para não ser acolhida...  Além do mais, a gente recebia muitos colaboradores e propagadores de outros estados. Aquele tempo foi chamada época do “desbunde” da Literatura do Brasil. Parece que todos queriam ser escritores. Então, eu publicava matéria de vários cantos do Brasil e tinha a chance de que os interessados fizessem a divulgação. “Revista Cirandinha” foi um sucesso É isso, eu e a  “Cirandinha” ficamos conhecidos, porque eu mandava para essas pessoas que publicavam, mandava e pedia que elas divulgarem e isto foi feito. Então, a “Revista Cirandinha” foi um acontecimento nacional. Até em um livro da “Poesia Jovem”, ela foi citada, cuja obra foi publicada pela Editora Abril, São Paulo, no começo dos anos 1980, se não me engano. Na época, eu estava em Salvador, fazendo minha pós-graduação em Crítica de Arte.

Natália Ferreira de Sousa – E o senhor pode me citar alguns colaboradores dela?

Francisco Miguel de Moura – Colaboradores? Ah... Eu meus filhos, que estudavam na Bahia, o Paulo Machado, o Rubervam Du Nascimento, o Elmar Carvalho, Herculano, Hardi, citando apenas essas pessoas que estavam aqui e são mais conhecidas.  Nós próprios, o Hardi, o Herculano, eu, e outras pessoas que vinham de fora e queriam conhecer a revista e o editor. Neste caso cito o poeta Luiz Ayrton Santos Jr. que era estudante de Medicina em Recife-PE que foi a minha casa pegar um revista e se tornou, além  colaborador, também  divulgador de “Cirandinha”. Outros vinham comprar um livro, aqui, ou estavam lançando alguma obra...  Gente que oferecia um livro, que trazia notícias, sabe? Assim, ela se tornou conhecida nacionalmente, Da “Cirandinha-PI”, foram só dez números...  Mas tenho um blog com o título onde se encontrará mais matérias e informações: www.revista cirandinha.blogspot.com.

Natália Ferreira de Sousa – E como o senhor vê essa relação da “Revista Cirandinha” com a geração do CLIP? O senhor pensa que o movimento CLIP influenciou na feitura dela, nos movimentos que vieram depois?

Francisco Miguel de Moura - Não, eu não entendi bem a sua pergunta. 

Natália Ferreira de Sousa - Não, assim, a geração do CLIP teve influência na “Cirandinha”, no lançamento da revista “Cirandinha” ou foi algo que não é associado, ao movimento?

Francisco Miguel de Moura - Não, não era associado, mas teve muita influência. Lembro-me bem que, no primeiro número, estavam Paulo Machado, Hardi Filho, Herculano e também do teatro. gente daquela época, muitos poetas que hoje já não se falam mais, mas estavam lá, junto com a gente. Lembro-me bem que no final eu publicava gente de fora. E no primeiro número publiquei um depoimento do grande poeta Ferreira Gullar, muito importante porque foi perseguido e exilado pelo Regime Militar.

 Natália Ferreira de Sousa – Ah, sim!

Francisco Miguel de Moura – Da época, não é? E de depois, até os últimos números.

Natália Ferreira de Sousa – E por que o senhor diz que eles estão esquecidos, hoje?

Francisco Miguel de Moura – É, alguns estão esquecidos, porque não prosseguiram com a ideia de fazer poesia, de fazer livro, de fazer essas coisas. Os que prosseguiram estão aí, uns mais, outro menos, são poucos, muitos já morreram, outros foram embora, e tal. É assim, não é? Se não me engano, Elmar Carvalho foi publicado na “Revista Cirandinha” e ele está aí vivinho da silva. Ok?

Natália Ferreira de Sousa – Ah! Certo. 

Francisco Miguel de Moura – Essa é a história dos movimentos, a vida é sempre história, presente ou passado, a projetar-se no futuro.

Natália Ferreira de Sousa – Com certeza. 

Francisco Miguel de Moura – Por pedaços, e aí depois a gente tem que estudar a história... Assim é a vida, assim é a história.

Natália Ferreira de Sousa – Certamente, professor. E a criaçãoda da Secretaria de Cultura?... Da Fundação Cultural do Piauí?

Francisco Miguel de Moura - Nós tivemos muita influência porque reclamávamos dos poderes públicos muitas, a principal era a volta dos Concursos Literários. Muita força por que no nosso movimento propunha isto, a gente fazia discursos em vários lugares, no jornal, eu escrevia, dizendo que era preciso ter uma Secretaria de Cultura e também que foi criados concursos literários, nós íamos pedindo que os governos deviam fazer concursos literários para as novas gerações. Assim, estariam contribuindo para a educação e, entendeu, E isso foi, sem dúvida, um dos motivos da existência e persistência do CLIP.  Realmente, nós passamos a gritar, falar e escrever. As pessoas de cultura saíram do Piauí, cumprindo necessidade histórica. Quando chegamos aqui era só o Prof. Arimatéa Tito na Academia de Letras. Os Professores Raimundo Santana e Paulo Nunes tinham ido morar em Brasília, essas eram as pessoas mais importantes culturalmente.  Aí tinha os novos e os velhos, aquela história.  Dentro desses novos, houve uma, uma espécie de cisão, digamos assim,  por que o Cineas Santos nunca foi do CLIP não, mas o Cineas Santos, depois de nós, depois que ele chegou, nos procurou e publicou até uma antologia, com os poetas em que figuravam Francisco Miguel de Moura,  Hardi Filho, Paulo Machado  e outras duas pessoas também, que depois não prosseguiram, na poesia. Nós três, fomos publicados em mimeógrafo.

Francisco Miguel de Moura – A verdade é essa, e depois o Cineas passava a ser editor. Mas eu já estava com a Revista “Cirandinha” e o Cineas criou o jornal “Chapada do Corisco.” O que prolongou mais foi o nosso movimento. Mas não houve nenhuma cisão entre a juventude. A trincheira era uma só, as armas é que eram diferentes, assim como os combatentes.  Todos queriam a mesma coisa: O desenvolvimento cultural de Teresina, principalmente, assim também do Estado.  Pulando um pouco para trás, Teresina, teve um jornal chamado “O Estado do Piauí”, do Josípio Lustosa. Eu sei que era um pequeno jornal, mas um bom jornal. Mais tarde um pouco apareceu o jornal “O Dia” e outros foram aparecendo e circulando. Quando eu cheguei em Teresina, a primeira coisa que eu fiz foi escrever para “O Estado do Piauí”, fui lá, o Josípio Lustosa me concedeu espaço, aí toda semana lhe entregava artigos.  O jornal era contra o governador Petrônio Portela, e aí caiu a sopa no mel: Nós éramos oposição. Depois passei para “O Dia”, sempre publicando. Eu fui uma das criaturas que mais publicou matérias, artigos, crônicas, contos, poemas, em tudo alguém me encontrará... Se alguém estava organizando uma antologia, eu lá entrava. Chegou um jornal novo, eu ia lá, entendeu? Eu fui uma das pessoas mais batalhadoras que houve na época. E, às vezes, as pessoas diziam: “Ah por que o Cineas...” Eu digo, que não tinha nem tenho nada contra ele, não. Lembro mais:  O contista Magalhães da Costa também fazia parte do nosso grupo e criou uma página literária em “O DI”. Ele, porque era juiz, morava fora. Mas quando chegou para cá, incorporou-se ao nosso movimento e nós fundamos depois a União Brasileira dos Escritores do Piauí (UBEPI), da qual ele foi o primeiro presidente, passou para mim e eu  para o Elmar Carvalho, e para outros a gente ia passando, passando.... Enquanto isto, a gente batalhava por diversas formas. Depois, eu fui convidado pelo Prefeito Wall para ser membro da Fundação Cultural Mons. Chaves. Eu fui diretor de produções culturais, depois o Elmar Carvalho. A entidade publicava a Revista “Cadernos de Teresina”. Eu fui um editor durante dois anos, depois foi o Elmar Carvalho.  E os “Cadernos de Teresina” publicavam muita coisa boa de literatura e outras mais artes.

Nália Ferreira de Sousa – Sim.

Francisco Miguel de Moura – Continuando...O primeiro número da revista” Presença” teve minha assinatura. Eu trabalhava no Banco do Brasil, era chefe de uma carteira, lá de  um setor. Aí, um dia, chegou lá o doutor Wilson Brandão, atual e o primeiro presidente da entidade, a Secretaria de Cultura. Ele foi  pedir que eu escrevesse o primeiro artigo, e disse  que a matéria tinha que ser histórica, sobre a, história do Piauí, sobre a literatura do Piauí, etc. E também do Nordeste.... Eu escrevi o primeiro artigo para a revista “Presença.”   Isso é histórico, embora ninguém tenha dito. Mas eu estou dizendo aqui e agora.  Se eu não disser, ninguém vai saber. Não é não?

Natália Ferreira de Sousa – Com certeza, professor. E eu também gostaria de perguntar, na esteira do que o senhor falou, sobre a Secretaria de Cultura. Eu li um artigo, no blog do senhor, dizendo que esteve presente, dentro da Secretaria, participantes do CLIP, o senhor pode me dizer quem foi, que eu não achei. 

Francisco Miguel de Moura - Participantes do CLIP? 

Natália Ferreira de Sousa – Sim.

Francisco Miguel de Moura - Não, ninguém. Eu, o Hardi, o Herculano, nós éramos participantes do CLIP. Herculano, Hardi e eu, em diferentes épocas, chegamos a ser eleitos para Academia de Letras, mas não para a Secretaria da Cultura, porque os cargos lá eram de nomeação.

Natália Ferreira de Sousa – Quem ocupou cargos na Secretaria de Cultura?

Francisco Miguel de Moura – Ninguém.... Como eu, deve ter acontecido com o Herculano alguma outra coisa parecida, e com o Hardi Filho, que ele fez um programa na Rádio Clube de Teresina, naquele tempo só tinha rádio. Deve ter acontecido a mesma coisa que aconteceu comigo, eu... A Secretaria de Cultura é de Cultura, a gente fazia movimentos, pedia a ela que nos apoiasse, fomos a Picos, uma vez, fomos a outros lugares, apoiados pela Academia ou pela Secretaria de Cultura, nada mais do que isso. Mas será´justo dizer que o Jesualdo Cavalcante, mais velho do que nós, foi o melhor dirigente da época. Aliado da aos principais membros do Círculo Literário, foi também para a Academia.  Eu, o Herculano e o Hardi já éramos e entramos em épocas diferentes: Herculano, depois o Hardi e finalmente, eu, o Francisco Miguel de Moura (também conhecido como Chico Miguel.

Natália Ferreira de Sousa – Ah! Sim, eu gostaria que o senhor falasse sobre isso também, sobre como foi o seu ingresso na Academia de Letras.

Francisco Miguel de Moura – Eu concorri três vezes. Na primeira, eu desisti, por que mão pude ir para segundo turno. Na segunda vez que eu concorri, meu concorrente era o J. Romão da Silva. O J. Romão da Silva tinha sido colega do Prof. Arimathéa, lá no Rio de Janeiro. Ele era uma pessoa de grande cultura, foi até vereador lá em Rio de Janeiro. Então, eu concorri com ele, nós não fizemos o número de votos para entrar. Aí tinha, o segundo turno.  O professor Arimathéa me chamou lá e disse: “Olhe, Chico Miguel, você pode concorrer no segundo turno”.  Mas eu disse: “Professor, com toda sinceridade, eu sempre fui assim.   Eu não vou concorrer, sabe por quê?” Ele disse: “Diga”, “É por que pra ir concorrer ao segundo turno, vou ter que pedir às mesmas pessoas que votaram no Romão, para votarem em mim, no segundo turno, e elas não vão fazer isso, então é?... Não adianta. Não, não vou”. Essa foi a segunda vez que eu concorri pra Academia. Já na terceira, foi diferente. O próprio Prof. Arimathéa já me havia dito que eu era o Drummond do Piauí, elogiado meus poemas. Era uma coisa meio dúbia, eu pensava. Mas ele já tinha escrito artigos a meu respeito, elogiando.  Aí, eu já entrava, lá na Academia, antes de eu ser a Acadêmico. Eu entrava lá a toda hora, um lugar onde a gente se sentia bem, encontrava muita gente de cultura. Um dia, eu estrei lá, acho que ele me chamou, não lembro. Aí ele disse: “Olha, Chico Miguel, tem duas vagas aqui, na Academia. Faleceram dois acadêmicos, quase que no mesmo dia”.   No mesmo instante ele me perguntou:. “Você quer candidatar-se a uma dessas vagas?” E eu disse: “Quero, sim”, “E aí, você quer essa, ou esta outra cadeira?”  Eu disse-lhe: “Quero essa”.  Aí ele disse-me: “Pra essa, você não se candidate, pois não vai ganhar, aqui não tem isto de só candidatar-se na vaga de alguém, por isto ou aquilo.” E completou”. Já o candidato da segunda vaga, praticamente, estará eleito”. Ele mandava, ele escolhia a pessoa a ser eleita. E e ele já sabia tudo da Academia, sabia quem era e quem iria eleito. “Mas, candidate-se à outra,” Você  vai ser eleito, embora tenha que pedir votos. É a regra”. Aí, me candidatei na outra vaga. Pronto, fui eleito. A minha vaga era do professor Francisco Cunha e Silva, os filhos do falecido eram meus amigos, lembro aqui o Francisco Cunha e Silva Filho, grande, professor e grande  crítico literário, que hoje mora no Rio. O poeta Hardi Filho foi quem me recebeu  na Academia. O Herculano Morais, foi eleito antes de nós. Assim, o CLIP estava na Academia Letras, como merecia. Mas fomos para a Academia Piauiense de Letras.

Natália Ferreira de Sousa – E a atuação da Academia professor, como o senhor via, naquele tempo, quando o senhor entrou, o senhor achava que ela atuava muito bem, ou o senhor achava que ela estava parada? 

Francisco Miguel de Moura – Estava um pouco parada. Quando veio a mudança política no Estado... Não sei se demorou muito, ou um pouco, veio pelo governador Alberto Silva, que era dinâmico e tinha, lá em Brasília, na época da revolução, além do Petrônio Portela, também um parnaibano como Ministros. Só não me lembro o nome. Dois piauienses importantíssimos. E eles arranjaram muita verba para a Academia. E o Prof. Arimathéa queria isso. Então veio aquele plano de produção, depois disso, chamaram o “Projeto Petrônio Portela.” E o Projeto Petrônio Portela foi abraçado inteiramente pela Academia, pelo Arimathéa Tito Filho. Assim veio o famoso  “Plano Editorial Petrônio  Portela”. Ele fez edições de  muitos livros. Muito importante, muitos livros inéditos e muito mais reedições que já não existiam, só o bagaço. O Projeto Petrônio Portela foi um avanço, um grande avanço e a Academia estava a frente com o Prof. Arimatéia Tito Filho. 

 Natália Ferreira de Sousa – E como o senhor enxerga a atuação do Arimathéa Tito Filho na Academia? 

Francisco Miguel de Moura – Foi boa, foi muito boa.  Ele era fechado nos seus propósitos, mas era aberto na conversa, no acolhimento, na cultura. Uma grande intelectualidade. Mas, na hora de deixar o negócio correr, ele era quem mandava mesmo, na Academia. Normalmente, todos os presidentes o seguem nas eleições e nos projetos.

Natália Ferreira de Sousa – Professor, e a produção do escritor, do senhor... Assim, o senhor tinha muitas dificuldades para a editoração dos seus livros aqui?

Francisco Miguel de Moura – Olha, eu venci a primeira, a primeira dificuldade foi lançar meu primeiro livro Areias, 1966. Eu cheguei, como já foi dito, vindo da Bahia, em outubro de 1964 e estava aqui num momento muito conturbado da minha vida, porque eu virei meu carro, na estrada de Picos. Muitas crianças e outras pessoas íam no carro, mas ninguém sofreu nada. Só meu filho machucou a mão e perdeu um dedo. E eu não tinha casa para morar em Teresina, fui morar em Timon-MA. Foi logo, em 1965, ano do qual eu estou falando...    Em1965, as casas em Teresina eram poucas e muito caro o aluguel, e quando eram baratas ficavam muito distantes do centro. Eu trabalhava no Banco do Brasil, não tinha mais transporte, o qual pois vendi depois do desastre, Aí, finalmente, encontrei uma casa em construção em Teresina, comprei e me passei pra ela.. A casa em construção só tinha a porta da frente, Lá em Timon, eu fiz o meu livro “Areias”,  uma parte dele eu  já havia colocado na gráfica do Padre Delfino, lá de Timon.  Sim, aí  eu fui morar em Timon, mas logo depois eu comprei essa casa em construção e vim morar em Teresina e quando eu publiquei “Areias”, ninguém tinha publicado livro aqui, só o Hardi Filho, que eu conhecia. E o Herculano, logo depois também. Era muito difícil, as gráficas de Teresina eram caras, não tinha condição. Lá tinha a gráfica do padre..., Era uma vida muito agitada, Muito complicada a minha vida e da minha família. Muitos livros naquela época eram publicados lá pelo padre Delfino, que era a tipografia que fazia mais barato. E até melhor. Nesse intermédio, levei meu filho para o Rio de Janeiro, para fazer um tratamento da mão. Você verá que alguns poemas do Areis” têm motivos do Rio de Janeiro, Ficou, assim, mais amplo, mais brasileiro.  Aí, quando eu publiquei “Areias”, saí vendendo e rapidamente esgotou. Uma novidade, eu fui o primeiro escritor piauiense que colocou livro numa banca de jornal, a qual vendia jornais e revistas e me dispus a colocar meu livro “Areias”.  Era na praça Rio Branco. são essas coisas que a gente não esquece. Aí, depois eu demorei muito a publicar. Em 1972, O. G. Rego de Carvalho tinha chegado, já estava no Banco do Brasil, nós trabalhávamos muito próximos um do outro. E aí eu, lendo os romances dele e conversando com ele sobre literatura e outras coisas, então resolvi a fazer o meu segundo livro que foi “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”. Antes de conhecer o escritor O. G. Rego, eu já havia lido “Ulisses entre o A mor e a Morte”. “Linguagem e Comunicação, O.G.Rego de Carvalho” foi muito difícil. Naquela época, eu estudava (à noite) e trabalhava no Banco do Brasil, visto que eu fazia o Curso de Letras, na Faculdade Católica de Filosofia (FAFI). Lá eu tive acesso a muitos livros importantíssimos que eu não teria noutro lugar, naquela época... Mesmo, porque as bibliotecas eram muito fechadas aqui, era diferente. Então, lá eu escrevi esse livro, um livro que me custou muito.  Terminei com uma forte depressão, tirei licença, cansado de trabalhar no banco durante o dia, e de noite eu ia para a Faculdade (FAFI). Voltando pra casa já cerca de meia noite, continuava a escrever o livro. Foi publicado no Rio...   Porque O. G. Rego de Carvalho e o H. Dobal, eram amigos do editor Álvaro Pacheco, do Rio de Janeiro. A Editora Artenova fez a distribuição pelo Brasil inteiro. Assim, fiquei conhecido até no exterior. O livro foi um sucesso. Aí, houve até uma ciumeira, um alarme muito grande. Diziam barbaridades: “Vai ver que o livro  foi escirto peio próprio O. G. Rego de Carvalho, para se elogiar”. Quem é esse O. G. Rego? Quem é Francisco Miguel de Moura?... Quem são eles”. Mas, lá dentro da Faculdade de Filosofia, saiu documento, uma espécie de “Manifesto” assinado por professores e por  todos os escritores importantes da época, cujo documento foi publicado no jornal “O Dia”, esclarecendo que o livro  era realmente de minha autoria e não do  O. G. Rego de Carvalho. Foi descoberta a briga entre Prof. A, Tito Filho e J. Miguel de Matos, a confusão, pois este queria entrar, por força, para a Academia Piauiense de Letras. Nerina Castelo Branco, Fontes Ibiapina, Celso Barros Coelho e outros professores assinaram o “Manifesto”. Foram cerca trinta assinaturas.  E eu continuei escrevendo crítica literária, todo mundo aceitando, e escrevendo no jornal...  Já fui publicado em Portugal, na Espanha, nos Estados Unidos, na França, na Itália, tanto em prosa quanto em poesia. Em vários lugares. Eu furava mesmo, era um furão e tal.  Eu pegava o endereço, mandava, tititi, tal e tal...  Eu era atinado, não era de brincadeira, não. Algumas pessoas tinham ciúmes de mim, porque eu progredia mais do que eles, e aí ficavam assim, as vezes aprontavam coisas ruins, idiotas, mas... “Não, não mexa com Chico Miguel”, como dizendo: “Vocês vão arrepender-se”. Isso acontecia como acontece em todo lugar, Não só aqui. Mas a vida .é assim, a vida humana!... Considero-me, sim, um escritor de sucesso.

Natália Ferreira de Sousa - E como o senhor vê essa questão professor, de ser um escritor, mas ser, como o senhor mesmo colocou, um escritor piauiense? O senhor gostaria de ser classificado como um escritor nacional ou como um escritor piauiense?

Francisco Miguel de Moura - Eu acho que eu sou um escritor nacional. Francisco Miguel de Moura que sou um escritor brasileiro, não é? Aí é porque as vezes as pessoas dizem que sou escritor piauiense. Ora, ora, ser piauiense é ser brasileiro.  Que é isto, meu Deus?”. Também fui citado na obra de Afrânio Coutinho, denominada “A Literatura no Brasil”. Pelo que sei é a mais nova e mais completa História da Literatura Brasileira. Na internet a pessoa não sabe quem é quem. Por isso, às vezes, eu digo que  sou um escritor brasileiro.  Porque eu acho que o escritor piauiense é brasileiro também, não existe essa... “Literatura brasileira de expressão piauiense”?  Odeio esse pleonasmo criado por alguém que quer sobressair-se apenas com uma palavra a mais, desnecessária. “Literatura do Piauí” é o título do meu livro e da matéria que contém, feito com muito estudo e critério. Porque quem nasce no Piauí e escreve literatura sobre o Piauí, observando o nosso falar, a nossa paisagem, os nossos costumes, etc. , é piauiense. E quem nasceu noutro estado, mas vive ou viveu em nosso estado, passa a ser piauiense adotivo, ora, ora!... É escritor piauiense, por que não? Ah, porque, o fulano de tal, J. Coriolano, que é meu patrono na Academia, José Coriolano de Sousa Lima.., Ah! Ele nasceu em Crateús-PI (e hoje é Crateús (CE)). Não entra na “literatura brasileira de expressão piauiense”!   É triste isso, essas interpretações tão sem sentido. Porque J. Coriolano foi deputado estadual aqui, foi juiz aqui, era poeta, o nosso maior poeta da sua época. Pois, para mim, ele é citado e estudado na história da “Literatura do Piauí”, e também sei que, antes, foi citada na “História da Literatura Brasileira”, 1888, de autoria do escritor Sílvio  Romero, ao lado de Juvenal Galeno.

Natália Ferreira de Sousa – E também é o caso do Hardi Filho não é professor, que nasceu no Ceará... 

Francisco Miguel de Moura - É, o Hardi Filho também.  Nasceu no Ceará, e daí? Mas ele morou aqui, fez poesia aqui, é poeta piauiense, por que não?  A nossa dificuldade dos escritores é não ter leitores... Nós somos leitores de nós mesmos, entendeu? Essa é que é a grande dificuldade. E hoje principalmente que a gente só quer ver a imagem. Se tiver um texto no whatsapp ou noutos aplicativos sem figuras, ele passa. Se tiver mais que duas linhas de texto,  o consulente diz:  “Ah!...” E passa... Ninguém lê. Agora, se bota imagem, aí todo mundo “Aaahh”. Nós estamos chegando a um antiguíssimo tempo, o tempo da caverna. Hà uma lenda da caverna. Sobre ela, dizem os filósofos e historiadores, que os ... primitivos ficavam lá dentro, e não queria sair, não saíam com medo, ficavam vendo as pessoas passarem, as sombras das pessoas, mas tinham medo de sair. Só era a imagem, só viam as imagens só. É triste, mas nós estamos voltando.

Natália Ferreira de Sousa – Bom professor e também, junto com tudo isso, eu queria que o senhor falasse exatamente dessa questão, de como o senhor vê a literatura, a produção da literatura do Piauí, produzida no Piauí, hoje em dia.

Francisco Miguel de Moura Eu vejo que está, tá meio numa fase de queda. No meu tempo, no nosso tempo, nos anos 1980, em todo final do século passado houve uma efervescência muito grande. Aí foi diminuindo, diminuindo... Agora, a tendência é diminuir mais ainda. Mas, com esse projeto da Academia de Letras, de distribuir-se livros de graça, livros publicados de autores piauienses...  E com esse projeto de literatura piauiense nas escolas... É, assim, uma espécie de sustentáculo do que já foi. 

Natália Ferreira de Sousa – Eh, eu não sabia desse projeto professor.

Francisco Miguel de Moura – Qual?

Natália Ferreira de Sousa – Esse projeto de distribuição?

Francisco Miguel de Moura – Na verdade, não tem distribuição, a Academia publica, mas não distribui, o problema é esse, distribuição. Livraria não existe mais, acabaram,  banca de revista acabou, não tem mais nada. Hoje só temos celular e aquelas figurinhas... Figurinhas que eu chamo “memes” e, não sei o que é, coloca-se ali como resposta, para você não escrever nada. você não quer escrever, só quer a figura. Não pode, desse jeito não vai. É muito difícil! Assim, é tá certo. E porque você não diz assim, “muito bem, obrigado, tudo bem, bom dia, como vai, achei, gostei? Assim é verdade, vão terminar não sabendo ler nem escrever mais. É triste. 

Natália Ferreira de Sousa – Professor, eu também gostaria de perguntar sobre essa questão de intelectuais, o senhor se vê como um intelectual e via também os seus contemporâneos como intelectuais ou como homens de letras?  

Francisco Miguel de Moura – Sou um homem de letras, essencialmente, e, em primeiro lugar, como poeta. Essencialmente poeta, e um literato, porque escrevo crítica literária  Sou as duas coisas. Mas não sou homem de discursos, não sou. Eu falo aqui para nós dois, por que nós dois, não tem problema. Mas, se tiver mais uma segunda pessoa, já sinto dificuldades e três e quatro, aí já é multidão, não adianta, entendeu? E normalmente os grandes poetas são assim. Drummond era assim... Todos eles, João Cabral de Melo Neto, Goulart, é assim, Manoel Bandeira. Os grandes poetas não gostam de fazer discursos, por quê?  Por que não escreve, por que não recita? Lê a poesia que escreveu, não é literatura. Até a literatura que é mais um discurso e está se acabando, é a literatura popular, Ah! Os versos populares de rima, sem métrica correta, somente com rimas fracas, que as pessoas recebem e não lêem! Ninguém compra.  Querem ouvi-los recitados pelos próprio autores, ou outras pessoas, através dos canais populares da internete.. Também ninguém lê muito mais, nem aquele não se lê mais, quer ouví-los pelos watsapps da vida. Outrora a gente chama isto de cultura de almanaque. Agora, é a cultura de internet.

Natália Ferreira de Sousa – E professor, nessa questão também, como o senhor classificaria a sua obra? O senhor classificaria a sua obra como literatura piauiense, ou  o senhor diria que é crítica literária...

Francisco Miguel de Moura - Não entendi a pergunta.

Natália Ferreira de Sousa – Como o senhor classificaria a própria obra, do senhor, o senhor diria que é mais para o lado da questão da literatura ficcional, ou mais para o lado da crítica literária, da poesia...

Francisco Miguel de Moura – Eu sou essencialmente, como eu já disse, poeta... Digamos assim, o último livro de poesias que eu publiquei, há uns três ou quatro anos, pela Academia Piauiense de Letras. E sou crítico literário por que eu separo as duas coisas, a crítica é uma forma intelectual de literatura, já a poesia é o sumo da literatura.. 

Natália Ferreira de Sousa - Pois professor eu acho que eu já tenho tudo...

Francisco Miguel de Moura - Já sabe de tudo, não é? E sobre o Herculano, não quis mais nada não?

Natália Ferreira de Sousa - Não professor, essa é uma entrevista mais para falar do senhor mesmo... 

                    (Gravação finalizada e retomada depois a pedido do entrevistado)

Natália Ferreira de Sousa – Pode falar professor. 

Francisco Miguel de Moura (continuação) - Eu não sei se eu sou um grande poeta brasileiro, crítico literário, eu posso dizer que sou, Já provei que sou, porque, pelo menos, em parte, Wilson Martins, grande crítico literário brasileiro, já falecido, escreveu a “História da Crítica Literária no Brasil” e me colocou lá, como crítico literário. Então, eu sou crítico literário, Sou poeta também, Disseram-me isso nos seus artigos arrolados na minha “Fortuna Critica”, Edições Cirandinha. PI, 2008. Antes também houve a reunião de ensaios do livro “Um Canto de Amor à Terra e a Gente”. 2007, publicado pela EDUF, com apresentação da Profa. Teresinha Queiroz. tudo de importante que escreveram sobre mim...  Então sou, sou um poeta brasileiro. Segundo  Carlos Drummond de Andrade, escreveu-me: “Muito me agradou a leitura de sua poesia sugestiva e variada”.  Um dia, o Pe. Raimundo José, que depois também se tornaria acadêmico da APL, me dizia que eu era “um grande poeta”. E aí, eu, em tom de modéstia, respondi-lhe:  Padre Raimundo José, eu lhe disse: “Grande, o senhor está dizendo, mas  eu não sei. Sei que sou poeta sim”, “Grande só Deus”, eu digo “É, grande só Deus”., ele confirmou.  Crítico literário e poeta, eu sei que sou,  Conhecido em Portugal,  na América do Norte, na Espanha, então, sou conhecido, não tão conhecido... Eu gostaria de ganhar o Prêmio Nobel. Pode? Não pode, do Piauí? Não pode, isto não existe. Mas eu, numa época, num ímpeto, propus o prêmio literário, o Nobel para O. G. Rego de Carvalho, Mandei para lá o pedido e documentos, mas não andou para frente de jeito nenhum. Mandei lá para a Academia, sei lá, para o Rio de Janeiro, uma embaixada, sei lá o que era, não me lembro

Natália Ferreira de Sousa – Pois professor, me surgiu só mais uma pergunta, que é a respeito da Revista Cirandinha. O senhor se lembra de que o Zeferino Alves da Costa colaboru? Acho que era esse o nome dele.

Francisco Miguel de Moura – Zeferino Alves da Costa?

Natália Ferreira de Sousa – Que é de, de Campo Maior.

Francisco Miguel de Moura - Conheço, ele ele fez parte do primeiro número da Revista Cirandinha, foi uma das pessoas que... Começamos juntos, na Cirandinha. 

Natália Ferreira de Sousa – O senhor pode me falar um pouco dele? Que eu também tenho dificuldade...

Francisco Miguel de Moura – Pouco, porque ele era uma pessoa assim meio introspectivo... Ensimesmada, sabe, não era muito comunicativo. Então pouco, mas sei. Ele era uma pessoa muito inteligente e que procurava a vida, as coisas... Ele era mais ator ou autor de teatro do que poeta. Eu, pelo menos,  percebia isto. Eu não sei se ele ainda hoje é vivo.

Natália Ferreira de Sousa - Não, ele já, já faleceu. 

Francisco Miguel de Moura – Eu sabia que ele estava lá para Campo Maior, mas nunca mais vi, É uma pena né! Agora, o Rubervam, por exemplo, mora em São Paulo, de vez em quando vem por aqui. Ele e também e um camarada aí chamado... Ivanildo de Deus,  que era poeta também, cooperou com  a Cirandinha, era de Luzilândia. Um dia desses, eu encontrei com ele, mas ele está morando em São Paulo também. Olha, naquele tempo da Cirandinha, qualquer poeta que vinha ao Piauí, poeta ou literato, de modo geral,  procurava a minha casa, era ali na rua 13 de Maio... Perto do Liceu, sabe? Todos eles, os mais famosos e os menos famosos, passavam por lá. 

Natália Ferreira de Sousa – Então, o senhor tem orgulho de ter contribuído para aquela época...

 Francisco Miguel de Moura – Ah, mas é muito mesmo. Lembro agora do João Pinto, contista que trabalhou comigo, na Cirandinha. Hoje ele mora em São Paulo. 

Francisco Miguel de MouraPois nesses livros (“Fortuna Crítica” e o outro “Um Canto de Amor à Terra e ao Homem) têm mais, muitos artigos que saíram depois.  Eu recebi muitos outros, importantes matérias críticas de gente que me manda. Escritores, escritoras, aí de modo geral as escritoras são muito mais sensíveis a minha literatura do que os escritores: Teresinha Queiroz por exemplo é uma delas, as grandes escritoras Lígia Fagundes Telles e Olga Savary escreveram sobre mim, a maioria das matérias é de escritoras.  Não digo que os escritores não têm escrito muito bem não, inclusive um depoimento do O. G. Rego de Carvalho sobre a minha poesia,  Quando eu estava publicando o meu segundo livro. “Pedras em Sobressalto”, você pode ver aí nesse... Matérias de O. G. Rego de Carvalho, que publicou no jornal “O Dia”. Então, eu considero que venci em tudo, no estudo, a literatura, na família... Minha família é uma família bem-organizada. Eu tive muita sorte, porque arranjei um primeiro emprego muito bom, que foi do Banco do Brasil, na época era o melhor emprego que tinha. Depois de médico, só quem ganhava igual o bancário do Banco do Brasil, e eu entrei no Banco do Brasil muito cedo, e lá a gente se fez, lá era uma escola, a gente dizia que lá era um quartel, era uma escola, era tudo isto. E então,  eu me casei com Maria Mécia Morais Araújo Moura, uma menina, ela tinha 16 anos,  que também foi meu sustentáculo e continua sendo, porque nós nos amamos.  E ela era uma das mais bonitas de Picos na época. E deu tudo certo. Então dizem que quando a gente nasce, quando a gente arranja um emprego e quando a gente casa, são três momentos importantíssimos. Eu nasci numa família, pobre, mas bem-conceituada, de gente católica, gente trabalhadora. Eu arranjei meu primeiro bom emprego porque eu tinha sido empregado de muitas outras coisas até chegar ao Banco do Brasil. Fui comerciário, escrivão de delegacia de polícia,  trabalhei em cartório... Mas, meu melhor emprego foi o do Banco do Brasil, foi uma grande vitória que Deus me concedeu e que ainda hoje vivo da aposentadoria dele.  

Natália Ferreira de Sousa – Pois pronto. Pois professor, eu agradeço, pela paciência, muito obrigada por ter me recebido. 

           

 

    

 

 

   

 

 

 

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